Não é de hoje que eu vejo as
aspirantes a aupair perguntarem a respeito deste tópico. Se somos mesmo parte
da família e até que ponto isso é bom ou ruim. A opinião que eu vou dar agora,
é MINHA. Muitas atuais e ex aupairs hão de concordar comigo, do mesmo jeito que
muitas irão discordar e até criticar. Sei que muitas já passaram por coisas piores, vão querer me matar e dizer que to reclamando demais. Mas eu não tô nem aí, meu intuito hoje é
desabafar.
Parte da família... ser ou não
ser, eis a questão. Eu não quero, nunca fiz questão e não é agora que isso vai
mudar. Simplesmente porque acho que isso não existe. Família mesmo é a que me
aguarda no Brasil. Que me aceita do jeitinho que eu sou, que mesmo brigando
todo santo dia, mesmo discordando em inúmeras situações, nos AMAMOS.
Amor. É isso que uma família tem
em comum. Gosto demais dos meus pimpolhos e não posso dizer que também não
goste dos meus “fofos”. Mas há um limite. Antes de tudo, considero-os como
chefes. E cá pra nós, é o que são mesmo. Do mesmo modo que somos empregadas.
Concordo que não é tão simples,
pois uma vez que compartilhamos o mesmo teto, a gente tende a se apegar mais e
todo aquele blá blá blá. Mas a pergunta que eu me fiz essa semana é: até que
ponto pode chegar essa afinididade? A partir de que momento deixamos de ser
empregadas para ser “parte da família”?
Deixa eu contar o que aconteceu nesta
última semana que me levou a escrever sobre assunto aqui hoje. Era pra ter contado aqui antes mas eu fiquei sem internet no fim de semana pois estava no curso, mas sobre isso eu falo em outro post. Fim de semana retrasado,
como vocês viram no post anterior, eu fui para Massachusetts. Acontece que ao
sair de casa na sexta-feira, a anta aqui fez a proeza de trancar a porta do
quarto pelo lado de fora. A minha porta não tem chave, é uma tranca por dentro
somente. Mas tive a sorte de já ter tirado as minhas coisas do quarto.
Antes que eu entrasse em
desespero, minha “fofa” disse que eu podia ir, senão perderia o trem e que
depois meu host dad daria um jeito de abrir a porta. Ok! Então simbora pro fim
de semana que eu tanto esperei.
Tudo muito bom, tudo muito legal.
Domingo, voltando pra casa, resolvo dar sinal de vida pra eles e aproveitei pra
perguntar do quarto. Quando para a minha surpresa, a minha “digníssima” me
responde que “sim, conseguimos abrir a porta do seu quarto, ah eu aproveitei e
dei uma de mãe, limpei seu quarto”...
WHAT? Como assim minha gente? A
louca abriu a porta e resolveu arrumar meu quarto? E antes que as más línguas
apareçam, não estava bagunçado não, pois eu arrumei quando arrumava minha mala
na quinta-feira a noite. Eu sei que não estava 100%, lembro que minha papelada
tava mesmo bagunçada.
Mas isso não importa. Mesmo que
tenha explodido uma bomba, mesmo que esteja mais do que zoneado, isso não dá
direito para que ela INVADA A MINHA PRIVACIDADE. Ah qual é, meu quarto é o
único cantinho naquela casa que eu posso chamar de “meu” e mesmo assim é um
“meu” temporário.
Ok, não vamos pirar antes de ver
o que realmente aconteceu. Cheguei em casa e eu NUNCA senti tanto receio em
entrar no meu quarto como naquele dia. Não notei muita diferença, até que
comecei a reparar nas pequenas coisas... Cadê minhas garrafinhas de água? Cadê
meu pacote de biscoito que estava aqui? E meus bombons? Cadê meus recibos do
cartão?
Pois é, ela jogou tudo isso fora
(ou comeu né!). Olha, vou confessar uma coisa pra vocês, antes de vir pra cá eu
era vista por todos como uma menina super explosiva, não pensava antes de falar
e agia por impulso. Mas quando cheguei aqui, percebi que essa era a primeira
coisa que eu tinha que mudar. E mudei.
Mas naquele dia... Eu ainda não
sei como não dei na cara dela! JURO. A minha vontade era essa. Que AUDÁCIA mermão. Cara, to indignada até agora.
Enfim, fui procurar a bonita pra
conversar. De acordo com ela meu quarto estava uma mess (bagunça em inglês). COM LICENÇA, mas mess tava a bunda dela. Ah não, não admito ela se referir ao meu
cantinho daquele jeito. Disse que eu não posso levar comida pro quarto...
HELLO, tinha UM pacote de biscoito que EU comprei e tava FECHADO.
Ainda disse que estava magoada
porque eu tirei as fotos dos meninos de uma das molduras... JURO que quase dei
nela! Filha, seus pirralhos eu vejo todo dia, não sinto falta, prefiro ter foto
da minha família que tá longe e eu não posso ver todo dia. “Ah mas as fotos
foram tiradas por fotógrafo profissional”, mas minha querida, eu guardei as
fotos, não cuspi, rasguei, amassei nem joguei fora.
Ah e disse também que tinha muito
lixo espalhado, não resisti e perguntei, que lixo??? Ah, tinha umas garrafas de
plástico e uns papéis, ela me responde. Claro, as garrafas eu uso pra beber
água e os papéis também eram meus.
E foi assim que a minha semana
passada começou. Linda não? E pra completar, o “fofo” passou mal a semana
inteira e ficou dentro de casa. O que torna a minha vida um inferno.
Simplesmente porque eles ficam de butuca em todos os meus passos, não fico a
vontade pra nada.
Na terça-feira ela também
inventou de que estava doente, o que significa os dois dentro de casa me
vigiando. Até aí, tuuuudo bem, eu consigo. Mas quando foi chegando o horário de
eu ficar off, a bonita vem fazendo charme de que vai precisar da minha “ajuda”
a noite pois não está se sentindo bem. Alguém avisa pra ela que “ajuda” é uma
coisa, trabalho escravo é outra.
Trabalhei 3 horas a mais, tendo
sido avisada em cima da hora e ainda aguentando todo mundo aqui de ovo virado.
LEGAL! (not)
Ah mas eu já cheguei ao ponto de
falar na cara e deixar a coisa explodir pra ver no que dá. Naquele momento eu fiquei
quieta mas já pensando que ia ter volta. No dia seguinte ela veio me agradecer
e eu falei que não tinha problema, mas que como eu a “ajudei” no dia anterior,
precisava da ajuda dela pra sair mais cedo na sexta-feira. #faleimesmo
E não deu outra, sexta-feira ela
já tinha mudado meu horário pra eu sair mais cedo. Só que ela havia remanejado
as horas. Ué, e as horas a mais que eu fiz? Cara de pau de novo. Acordei
passando mal e ela tinha me dado 30 minutos off de manhã, só pra não passar de
45h semanais. Olhei na cara dela e falei, “será que você poderia me dar as
horas que eu trabalhei extra na terça? Não estou me sentindo bem e queria
descansar.” 4 horas de sono depois acordei renovada! Hahahaha
Então fica a dica pra vocês
atuais e futuras aupairs, não tenham medo de falar, se eles pedem “favores”,
nós também podemos pedir. Depois que eu comecei a usar essa tática, o número de
favorzinhos diminuiu. #vaipormim
É por isso que eu digo que não
faço questão de fazer parte da família. Eles falam isso só para pedirem
favorzinhos e não se sentirem culpados por isso. Já passo a semana inteira, o
dia inteiro cuidando desses meninos. Meu momento off é MEU, não quero ficar
rodeada de criança me pedindo coisa o tempo todo. Sim, porque eles não entendem
quando eu to off ou não, ou seja, pra eles eu trabalho o tempo todo.
Sei que é errado generalizar sabe, até porque eu já tive bons momentos com eles aqui. Já me levaram para jantar fora, me levaram no zoo e no aquário, fora outras atividades por aqui. Eu sei que eles tentam me incluir nas atividades deles, isso por um lado é legal, mas por outro é cansativo. Não pensem vocês que é só sair e aproveitar, você meio que se sente na obrigação de ajudar em forma de agradecimento, o que no fim das contas é quase como o seu trabalho.
Eu só sei que aqui confirmei uma coisa que eu sempre soube, convivência é uma merda! hahahaha Ah, mãe, me desculpe pelas palavras não muito educadas no post de hoje, mas tem hora que só elas expressam o que eu quero dizer, a culpa não é minha. :p
É, tem que ter um jogo de cintura muito bom pra não surtar. Esses últimos dias eu pensei muito numa tal palavrinha que toda aupair teme (rematch), mas graças a Deus eu só pensei e não fiz nada a respeito. Viu mãe, aprendi a não agir tanto por impulso. Não é sempre que funciona mas eu chego lá...
E só pra me quebrar, ontem quando acordei, meu mais velho veio correndo me abraçar, dizendo que sentiu muito a minha falta no fim de semana, perguntou como tinha sido minha aula, me contou as coisas que fez e no fim me solta "I love you so much, never leave me again!". Ok, resolvo acordar os gêmeos e ao entrar no quarto deles sou recebida por uma festa deles, os dois com aquele big sorrisão lá me olhando e gritando animados "Iana, Iana!". De cortar a gente né?
Pois é, como eu disse é uma faca de dois gumes né. Como eu sempre soube, nada é perfeito, tudo tem seus prós e contras, mesmo que as vezes pareça que tem mais contras que prós, os prós vem depois pra arrebentar contigo.
É isso, vivendo e aprendendo. Um dia a gente chora, no outro dá gargalhada. Numa hora a gente se odeia, na outra é só amor. Isso é família? Sim, concordo. Mas não sou "parte da família", sou uma pessoa de fora mas que é querida por eles e estou satisfeita com o posto que tenho. Afinal, limites nem sempre são ruins... E no fim, nosso lema é o mais certo: "A gente se fode mas se diverte!".
Uma boa semana pra vocês!
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